Um estudante da Universidade Fluterques acreditava na existência de vida inteligente fora de seu planeta. Dedicou-se, portanto, a esse tipo de pesquisa. Finalmente, acabou descendo em um planeta habitado por seres estranhíssimos que ele chamou de freguestes. Deixou um manuscrito rico e interessante para as gerações futuras, com suas impressões sobre esse lugar.
Em cima eles têm esfera, só que não é bem redonda.
De um lado da esfera tem uns fios muito finos, que são de muitas cores.
Do outro lado tem o que eu acho que é a cara deles.
Na cara, bem em cima, eles têm umas bolas que eles chamam de olhos. É por aí que sai, às vezes, uma aguinha. Mas só às vezes.
Um pouco mais embaixo tem uma coisa que salta pra fora, com dois buraquinhos bem embaixo. Isso eles chamam de nariz.
Mais abaixo ainda tem um buraco grande, cheio de grãos brancos e tem uma coisa vermelha que mexe muito.
Os freguetes estão sempre botando dentro deste buraco umas coisas que eles chamam de comida. Essa tal comida é que dá a eles energia, como a nossa fagula. Tem uns que botam bastante comida dentro. Tem outros que só botam de vez em quando.
Esses buracos servem pra outras coisas, também.
É por aí que saem uns sons horrorosos que é a voz lá deles.
Embaixo da bola tem um tubo que une a bola ao corpo.
Do corpo saem quatro tubos: dois pra baixo e dois pros lados. Os tubos de baixo, que se chamam pernas, chegam até o chão e servem para empurrar os fraguetes de um lado pro outro.[...]
Eles moram, quase todos, amontoados nuns lugares muito feios, que eles chamam de cidades.
Esses lugares cheiram muito mal por causa de umas porcarias que eles fabricam e de umas nuvens escuras que saem de uns tubos muito grandes que por sua vez saem de dentro de umas caixas que eles chamam de fábricas.
Parece que eles vivem dentro de outras caixas. Algumas destas caixas são grandes, outras são pequenas.
Nem sempre moram mais freguetes nas caixas maiores.
Às vezes acontece o contrário: nas caixas grandes moram pouquinhos freguetes e nas caixas pequeninas mora um montão deles.
Nas cidades existem muitas caixas amontoadas umas nas outras.
Parece que dentro destes amontoados há um tubo, por onde corre um carrinho na direção vertical, chamado elevador, porque eleva as pessoas para o alto dos amontoados.
Não ouvi dizer que eles tenham descedores, o que me leva a acreditar que eles pulem lá de cima até embaixo, de alguma maneira que eu não sei explicar.
Quando fica claro, eles saem das caixas deles e todos começam a ir pra outro lugar e ficam nisso de ir daqui pra lá o tempo todo, até que fica escuro e todos voltam pro lugar de onde vieram.
Não sei como é que eles encontram o lugar de onde eles saíram, mas encontra; e entram outra vez nas caixas.
Assim que eu cheguei era pouco difícil compreender o que eles diziam. Mas logo, logo, graças a meus estudos de flóbitos, consegui aprender uma porção de línguas que eles falam.
Ah, porque eles falam uma porção de línguas diferentes.
E como é que eles se entendem?
Quer dizer, tem uns que entendem os outros, mas não é todo mundo, não.
Eles vivem brigando muito, os grandes brigam com os pequenos o tempo todo e então os bem pequenos começam a gritar e é aí que sai água das bolas que eles têm na cara.
Algumas pessoas de um brigam com as outras pessoas de outro lugar e eles chamam isso de guerra e então eles jogam uns nos outros umas coisas que destroem tudo que eles passam um tempão fazendo. E até destroem eles mesmos.[...]
Pois este planeta, que é chamado por seus freguetes de Terra, é incrivelmente semelhante ao Planeta Flórides do sistema Flíbito, que se desintegrou, na era Flatônica, não se sabe por quê, mas que, nessa ocasião, desprendeu grandes nuvens de fumaça em forma de cogumelos...
Ruth Rocha. Admirável mundo louco. Rio de Janeiro, Salamandra, 1986,
Estudo do texto
Palavras e expressões
1 – Escrevas o significado das palavras destacadas.
a) “Um pouco mais embaixo tem uma coisa que salta pra fora, com dois buraquinhos bem embaixo.”
b) “Embaixo da bola tem um tubo que une a bola ao corpo.
c) “Do corpo saem quatro tubos: dois pra baixo e dois pros lados.
2 – Como o extraterrestre define estas palavras?
Poluição:
Elevador:
3 – O narrador inventa palavras para explicar os fatos. A partir da sua definição de elevador, que neologismo ele criou?
Neologismo é a palavra, frase ou expressão nova ou antiga com sentido novo.
4 – Qual o significado destes neologismo?
a) freguetes = c) flóbitos =
b) fagula = d) Flatônica =
O significado do texto
1 – O narrador escreve sobre os hábitos e os costumes daqueles seres estranhos – como vivem, fala, alimentam-se - , fazendo também algumas indagações sobre fatos que não consegue compreender. Que mensagem ele quis transmitir ao leitor?
Narração é uma história, um relato de fatos reais ou imaginários, com sequência lógica de idéias e com começo, meio e fim.
Narrador é aquele que conta a história.
2 – O que o narrador está descrevendo na frase abaixo?
“Mais abaixo ainda tem um buraco grande, cheio de grãos brancos e tem uma coisa vermelha que mexe muito.”
3 – Como são descritas as cidades da Terra?
4 – Que crítica há na frase abaixo?
“...: nas caixas grandes moram pouquinhos freguetes e nas caixas pequeninas mora um montão deles.”
5 – Como o narrado descreve o relacionamento entre adultos e crianças?
6 – O que os freguetes chamam de guerra?
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